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Arte/Paulo Chagas
Os nomes chamam atenção e alguns até podem se parecer, muitas vezes, com denominações de chapas de grêmio estudantil e associação comunitária, times de futebol, bandinhas de música e bloco de Carnaval: Avante, Cidadania, Democratas, Podemos, Progressistas, Republicanos e por aí adiante. Nos últimos anos, as siglas políticas no Brasil vêm excluindo a palavra "partido" como forma de passar para o eleitor a ideia de algo novo não relacionado a um tipo de organização falida.
Mas essa estratégia vai cativar o eleitor? Qual o impacto nas eleições como as municipais do próximo ano? Essas e outras perguntas estão na cabeça de muita gente, inclusive, de dirigentes partidários.
O Diário ouviu três especialistas de diferentes áreas para saber o que está levando, inclusive partidos históricos, como o PP e o MDB, a adotarem uma nova identificação.
- Estamos passando por um momento de descrédito muito grande com as instituições em geral e de preconceito contra os políticos e os partidos, mas essa coisa de mudar de nome é uma tentativa de driblar esse desprestígio. Porém, como o sistema é de lista aberta e candidatos individuais, o partido acaba tendo pouca significação - diz o cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Benedito Tadeu Cesar.
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PARTIDOS REPAGINADOS
Siglas que mudaram de nome na política brasileira para não se confundirem com os antigos partidos:*
- AVANTE - Originário do Partido Trabalhista do Brasil (PTdo B), fundado em 1994 a partir de uma dissidência do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A mudança para o atual nome ocorreu em 2017
- CIDADANIA - É o novo nome do Partido Popular Socialista (PPS), fundado em 1992 de um racha no antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). A mudança de nome ocorreu este ano
- DEM - O Democratas ou DEM foi a primeira sigla a excluir a palavra partido depois do fim do bipartidarismo. Originário do Partido da Frente Liberal (PFL), criado em 1985 após um racha no Partido Democrático Social (PDS, atual Progressistas), o DEM adotou esse novo em 2007.
- DEMOCRACIA CRISTÃ - É o novo nome do Partido Social Democrata Cristão (PSDC),fundado em 1997 a partir de uma dissidência no antigo Partido Democrata Cristão (PDC). A exclusão da palavra partido ocorreu em 2018
- MDB - A sigla Movimento Democrático Brasileiro (MDB) surgiu na época da ditadura militar, que impôs a existência de só duas siglas no Brasil. Em 1981, já com o fim do bipartidarismo, virou Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). No ano passado, voltou a ser MDB
- NOVO - Surgiu em setembro de 2015 com um nome que sugere novidade. Já na sua criação, foi um dos que optaram por não colocar a palavra partido
- PATRIOTA - Também conhecido como PATRI, é originário do Partido Ecológico da Nação (PEN), fundado em 2012. A mudança de nome com a exclusão da palavra partido ocorreu em 2018
- PODEMOS - Também conhecido como Pode, é o novo nome do Partido Trabalhista Nacional (PTN), fundado em 1995. A exclusão da palavra partido da legenda ocorreu em 2016.
- PROGRESSISTAS - É a legenda que mais trocou de nome ao longo dos últimos 50 anos. Começou como Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime militar. Depois, virou Partido Democrático Social (PDS), Partido Progressista Reformador (PPR), Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido Progressista (PP) e, por fim, Progressistas
- REDE SUSTENTABILIDADE - Fundado em setembro de 2015, o Rede Sustentabilidade já nasceu com esse nome, na onda de um movimento reunindo várias correntes em torno da candidatura à presidência Marina Silva
- REPUBLICANOS - Originário do Partido Municipalista Renovador (PMR), criado em 2003, virou Partido Republicano Brasileiro (PRB) em 2016. A exclusão da palavra partido ocorreu este ano
- SOLIDARIEDADE - Fundado em 2013, adotou, desde o início, esse nome já sem a palavra partido. Reúne várias correntes, incluindo grupos sindicais
*As siglas estão na ordem alfabética
Congresso promulga Reforma da Previdência
TENTATIVA DE ILUDIR
Benedito, no entanto, faz uma observação: as mudanças podem não ter o efeito desejado para siglas tradicionais, como o PFL, que virou Democratas, e o PP, que passou a ser Progressistas. Na opinião do professor, "a origem desses partidos acaba se apagando da origem do eleitor, o que pode ter uma validade. Mas nessa onda de direita, apagar essa origem não vai funcionar".
Para o historiador Leonardo Guedes Henn, professor da Universidade Franciscana (UFN), mudar o nome é uma tentativa dos partidos de se distanciar da política tradicional, porém ele não acredita que essa estratégia conquistará o eleitorado.
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- A mudança de nome em si é secundária. Não vejo que a troca de nome vá influenciar o eleitor, ele não vê isso como algo diferente de partido. O discurso de novidade é que pode influenciar, porque no Brasil não há uma cultura política em que as pessoas compreendam as ideias - afirma o historiador.
Já o consultor político Júlio Pujol, que assessora partidos e candidatos, avalia que há uma pressão da sociedade sobre as siglas partidárias. Essas forças "de fora", tanto à direita quanto à esquerda do espectro ideológico, segundo ele, estão debatendo os problemas do país e propondo soluções para eles.
- O DEM é um partido que está consolidado nesse novo modelo, já o Rede, que também foi um dos primeiros, ainda não conseguiu se estruturar para ser uma real força política. Os outros parecem ser uma sopa de nomes que não se consegue mais distinguir o que são, de onde vêm e o que representam. O eleitor fica meio perdido no meio dessas siglas - avalia o consultor.